Todo relacionamento tem momentos de conflito, mas quando um dos parceiros é autista, a forma como as discussões acontecem pode ser diferente. Enquanto neurotípicos costumam expressar emoções de maneira intensa e esperar reciprocidade, autistas podem ter dificuldade em interpretar sinais emocionais, lidar com discussões prolongadas ou processar os sentimentos rapidamente.
Isso pode gerar frustrações para ambos os parceiros – o neurotípico pode sentir que não está sendo ouvido, enquanto o autista pode se sentir sobrecarregado e ansioso.
No entanto, com algumas adaptações na comunicação e no gerenciamento de conflitos, é possível evitar desgastes desnecessários e tornar o relacionamento mais harmonioso.
Neste artigo, vamos explorar os desafios comuns nos conflitos entre autistas e neurotípicos e estratégias para lidar com essas situações de forma mais eficiente.
1. Quais são os principais desafios nos conflitos entre autistas e neurotípicos?
Conflitos podem ser difíceis para qualquer casal, mas quando um parceiro está no espectro autista, algumas dificuldades específicas podem surgir:
1.1. Dificuldade em interpretar emoções do parceiro
Autistas podem não perceber mudanças sutis na linguagem corporal, no tom de voz ou nas expressões faciais do parceiro, o que pode fazer com que não percebam que há um problema até que a situação se agrave.
💡 Exemplo:
🔹 O parceiro neurotípico pode estar chateado e esperar que o autista perceba sozinho.
🔹 O autista, por sua vez, pode não notar os sinais sutis e continuar agindo normalmente, o que pode ser interpretado como desinteresse.
Solução: Em vez de esperar que o parceiro autista perceba sinais não verbais, comunique diretamente o que está sentindo.
✔️ “Estou chateado porque senti que você não me ouviu naquela conversa. Podemos falar sobre isso?”
1.2. Sobrecarga sensorial e emocional durante discussões
Discussões podem ser emocionalmente intensas para qualquer pessoa, mas para autistas, elas podem levar a uma sobrecarga sensorial. Sons altos, falas rápidas, mudanças de tom e emoções intensas podem ser difíceis de processar, fazendo com que o parceiro autista fique sobrecarregado e incapaz de continuar a conversa.
💡 Solução:
✔️ Evitar gritos ou tom de voz muito alto.
✔️ Falar de maneira clara e objetiva.
✔️ Se perceber que o parceiro autista está se sentindo sobrecarregado, dar um tempo para que ele processe as emoções antes de continuar a conversa.
1.3. Necessidade de tempo para processar o conflito
Muitas vezes, autistas precisam de mais tempo para entender seus próprios sentimentos e organizar seus pensamentos antes de responder a uma discussão. O parceiro neurotípico pode interpretar isso como indiferença ou falta de vontade de resolver o problema.
💡 Exemplo:
🔹 Durante uma discussão, o neurotípico pode querer resolver o problema imediatamente, enquanto o autista pode precisar de algumas horas ou até dias para processar o que aconteceu.
Solução: Criar um acordo para dar tempo ao parceiro autista antes de retomar a conversa.
✔️ “Se você precisar de um tempo para pensar, tudo bem. Podemos falar sobre isso amanhã?”
Isso ajuda a evitar reações impulsivas e melhora a qualidade da discussão.
1.4. Comunicação muito literal e direta
Autistas tendem a ser diretos e podem não perceber quando um parceiro neurotípico está falando de forma indireta ou esperando empatia emocional antes de uma solução lógica.
💡 Exemplo:
🔹 O parceiro neurotípico diz: “Eu queria que você fosse mais carinhoso comigo.”
🔹 O autista pode interpretar isso literalmente e responder: “Mas eu já demonstro carinho ajudando você nas suas tarefas.”
Isso pode levar a mal-entendidos, pois o neurotípico pode estar buscando validação emocional, enquanto o autista responde de forma prática.
Solução: Ser mais claro sobre o que você precisa no momento.
✔️ “Quando estou chateado, eu gosto de ouvir palavras carinhosas. Isso me ajuda a me sentir melhor.”
Isso dá ao parceiro autista um direcionamento claro do que pode fazer para ajudar.
2. Estratégias para resolver conflitos de forma saudável
Mesmo que os parceiros tenham formas diferentes de lidar com conflitos, algumas estratégias podem tornar as discussões mais produtivas e menos desgastantes.
2.1. Estabelecer regras para discussões saudáveis
Criar um conjunto de regras para lidar com conflitos pode evitar explosões emocionais e garantir que ambos se sintam respeitados. Algumas regras úteis incluem:
✔️ Evitar gritos e palavras agressivas.
✔️ Dar tempo ao parceiro autista para processar as emoções antes de continuar a conversa.
✔️ Falar de forma objetiva, sem indiretas.
✔️ Usar “eu sinto” em vez de acusações.
💡 Exemplo:
❌ “Você nunca me escuta!”
✅ “Eu me sinto ignorado quando você não responde às minhas mensagens. Você pode me dizer o que acha sobre isso?”
2.2. Permitir pausas durante o conflito
Se um parceiro autista começar a se sentir sobrecarregado durante uma discussão, pode ser útil fazer uma pausa e retomar a conversa depois.
💡 Dica: Combinar um tempo máximo para a pausa pode ajudar a evitar que o problema fique sem solução.
✔️ “Vamos dar um tempo agora e voltar a falar sobre isso daqui a duas horas?”
Isso permite que o parceiro autista processe as emoções sem que o neurotípico sinta que o problema está sendo ignorado.
2.3. Criar uma forma alternativa de comunicação
Se discutir verbalmente for muito desgastante para o parceiro autista, explorar outras formas de comunicação pode ser útil, como mensagens de texto ou bilhetes escritos.
💡 Exemplo: Se um autista tem dificuldade em expressar seus sentimentos na hora da discussão, ele pode escrever uma mensagem mais tarde explicando como se sentiu.
Isso reduz a pressão do momento e permite que a comunicação aconteça de maneira mais confortável.
2.4. Buscar um meio-termo entre lógica e emoção
Autistas costumam resolver problemas de forma lógica, enquanto neurotípicos podem buscar mais empatia emocional.
💡 Dica:
✔️ O parceiro neurotípico pode tentar ser mais direto ao expressar suas emoções.
✔️ O parceiro autista pode tentar oferecer mais validação emocional, mesmo que de forma simples, como dizer “Eu entendo que isso foi difícil para você.”
Isso ajuda a equilibrar as diferentes formas de lidar com o conflito.
Conclusão: Conflitos podem ser resolvidos com respeito e adaptação
Relacionamentos entre autistas e neurotípicos podem enfrentar desafios na forma de lidar com conflitos, mas isso não significa que a relação seja impossível. Com comunicação clara, paciência e respeito às diferenças, é possível resolver problemas sem desgastar o vínculo do casal.
O mais importante é que ambos os parceiros estejam dispostos a se adaptar e a encontrar maneiras de tornar a relação mais equilibrada. Afinal, um relacionamento saudável não se baseia na ausência de conflitos, mas na forma como eles são resolvidos. 💙
Te vejo no próximo post!
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Blogueira desde 2014, autista diagnosticada tardiamente e apaixonada por aprender e compartilhar experiências. Explore mais sobre o autismo por aqui no Blog Espectro Autista TEA!