No casamento, a compatibilidade sexual pode ser um fator importante para a harmonia do casal. Quando há uma diferença significativa na libido — especialmente quando um dos parceiros está no espectro autista — podem surgir desafios na relação.
O que fazer quando um dos cônjuges sente mais desejo sexual do que o outro? Como encontrar um equilíbrio que respeite os limites de ambos sem que ninguém se sinta frustrado ou pressionado?
Neste artigo, vamos explorar as causas das diferenças de libido no casamento com um autista e estratégias para manter o relacionamento saudável e satisfatório para ambos.
Por Que a Libido Pode Ser Diferente em Casais Neurodiversos?
O desejo sexual pode variar muito entre indivíduos, mas no contexto de casamentos neurodiversos (quando um dos parceiros é autista), alguns fatores podem intensificar essa diferença.
1. O Sexo Pode Ter Significados Diferentes para Cada Um
Enquanto para um dos parceiros o sexo pode representar intimidade e conexão emocional, o outro pode não enxergar da mesma forma. Autistas muitas vezes expressam amor e afeto de maneiras diferentes, e o sexo pode não ser visto como essencial para demonstrar carinho.
2. Sensibilidade Sensorial
O sexo envolve toques, movimentos, cheiros e sons que podem ser intensos para uma pessoa autista com hipersensibilidade sensorial. Isso pode fazer com que ela evite a relação sexual para evitar desconfortos.
3. Necessidade de Rotina e Previsibilidade
Autistas tendem a preferir rotinas estruturadas e previsíveis. Como o sexo pode ser espontâneo e cheio de variáveis inesperadas, isso pode gerar ansiedade, reduzindo o desejo sexual.
4. Dificuldade em Expressar e Identificar Desejo Sexual
Algumas pessoas no espectro têm dificuldade em identificar e expressar seu próprio desejo sexual. Elas podem sentir atração, mas não perceber ou saber como demonstrar interesse.
5. Cansaço Mental e Sobrecarga Sensorial
Autistas podem gastar muita energia ao longo do dia tentando lidar com estímulos externos, interações sociais e tarefas do cotidiano. Isso pode levar à fadiga mental e emocional, diminuindo o interesse sexual.
Como Encontrar um Meio-Termo Quando as Libidos São Diferentes?
Se um dos parceiros deseja sexo com mais frequência do que o outro, a solução não é pressionar ou ignorar o problema, mas sim encontrar um equilíbrio que respeite as necessidades de ambos.
Aqui estão algumas estratégias para lidar com essa situação:
1. Comunicação Direta e Respeitosa
A base para resolver qualquer questão no relacionamento é a comunicação. Muitos autistas preferem conversas objetivas, então seja claro ao expressar suas necessidades.
❌ Evite dizer: “Você nunca tem vontade de ficar comigo…”
✅ Prefira dizer: “O sexo é uma forma importante de conexão para mim. Como você se sente sobre isso?”
Isso evita que a conversa se torne um conflito e ajuda a encontrar soluções.
2. Explore Outras Formas de Intimidade
Se a frequência sexual for um problema, é importante encontrar outras formas de conexão:
💞 Pequenos toques e abraços rápidos (se o parceiro se sentir confortável)
🎥 Noites de filmes e conversas íntimas
💌 Troca de mensagens carinhosas ao longo do dia
🎮 Atividades compartilhadas, como jogos ou hobbies
Isso ajuda a fortalecer o relacionamento mesmo que o sexo ocorra com menos frequência.
3. Crie um Acordo Que Funcione para Ambos
Nem sempre será possível que o casal tenha o mesmo nível de desejo, mas criar uma rotina previsível pode ajudar o parceiro autista a se sentir mais confortável com a ideia do sexo.
Por exemplo, vocês podem tentar programar momentos de intimidade para dias específicos, reduzindo a ansiedade causada pela imprevisibilidade.
4. Descubra o Que é Confortável para o Parceiro Autista
Pergunte ao seu cônjuge quais aspectos da intimidade ele acha desconfortáveis e quais ele aceita melhor. Algumas pessoas autistas não gostam de determinados tipos de toque, mas podem gostar de outras formas de conexão.
Por exemplo:
✅ “Você se sentiria mais confortável se o ambiente fosse mais calmo e previsível?”
✅ “Existem tipos de toque que você gosta mais do que outros?”
Esse diálogo pode revelar formas alternativas de manter a intimidade no relacionamento.
5. Evite Pressão e Culpa
Se o parceiro autista não sente desejo com a mesma frequência, pressioná-lo pode gerar mais resistência e afastamento.
O ideal é criar um ambiente de segurança e respeito, onde o sexo seja visto como uma experiência positiva para ambos, e não como uma obrigação ou uma fonte de estresse.
6. Considere Terapia de Casal
Se a diferença de libido estiver causando sofrimento no relacionamento, buscar ajuda profissional pode ser uma solução. Um terapeuta especializado pode ajudar o casal a entender melhor suas necessidades e encontrar alternativas para manter a relação saudável.
O Que Fazer Se Nenhuma Solução Funcionou?
Se, mesmo após tentar diversas abordagens, a diferença de libido continuar sendo um problema, é importante refletir sobre algumas questões:
- Eu consigo ser feliz nesse relacionamento mesmo com pouca atividade sexual?
- Meu parceiro está disposto a negociar ou não quer conversar sobre o assunto?
- Existem outras formas de intimidade que me satisfazem emocionalmente?
Se a falta de sexo estiver prejudicando sua felicidade, pode ser necessário avaliar se o relacionamento é sustentável a longo prazo ou se é preciso buscar outras alternativas para suprir essa necessidade.
Conclusão: O Equilíbrio Está no Respeito e na Comunicação
Diferenças de libido são comuns em qualquer casamento, mas em relacionamentos neurodiversos elas podem ser ainda mais desafiadoras.
O segredo para encontrar um meio-termo está na comunicação aberta, no respeito às necessidades de ambos e na disposição para encontrar alternativas que funcionem para o casal.
Se o sexo não é uma prioridade para o parceiro autista, mas é importante para o outro, é essencial buscar formas de manter a conexão emocional e evitar que isso se torne uma barreira para a felicidade do casal.
Com paciência, empatia e diálogo, é possível construir um relacionamento saudável e satisfatório para ambos.
Te vejo no próximo post!
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Blogueira desde 2014, autista diagnosticada tardiamente e apaixonada por aprender e compartilhar experiências. Explore mais sobre o autismo por aqui no Blog Espectro Autista TEA!