Empatia é um dos pilares dos relacionamentos saudáveis, pois permite que os parceiros compreendam e respondam às emoções um do outro. No entanto, autistas podem apresentar dificuldades em demonstrar ou perceber empatia da maneira convencional, o que pode gerar desafios nos relacionamentos amorosos.
Isso não significa que pessoas autistas não sintam empatia – na verdade, muitas sentem emoções de maneira intensa, mas podem ter dificuldades em expressá-las ou interpretar as do parceiro.
Neste artigo, vamos explorar como isso afeta os relacionamentos e como encontrar formas mais eficazes de conexão emocional.
1. O que é empatia e como ela funciona no autismo?
A empatia pode ser dividida em dois tipos principais:
1️⃣ Empatia cognitiva – a capacidade de entender os sentimentos e perspectivas dos outros.
2️⃣ Empatia emocional – a capacidade de sentir as emoções dos outros e reagir a elas de maneira apropriada.
Autistas podem apresentar dificuldades principalmente na empatia cognitiva, ou seja, podem ter problemas para interpretar expressões faciais, linguagem corporal e sutilezas emocionais. Isso pode levar a situações em que um parceiro neurotípico sente que não está sendo compreendido ou que o autista não se importa com seus sentimentos – o que nem sempre é verdade.
💡 Exemplo:
🔹 O parceiro neurotípico está chateado e espera que o autista perceba.
🔹 O autista não entende os sinais sutis e continua agindo normalmente, sem intenção de ignorar o outro.
Isso pode levar a frustrações e mal-entendidos no relacionamento.
2. Dificuldades de empatia no relacionamento
2.1. Dificuldade em interpretar emoções do parceiro
Muitas pessoas neurotípicas expressam emoções através de sinais não verbais, como expressões faciais, tom de voz e postura corporal. Autistas podem ter dificuldade em perceber essas pistas e podem precisar de uma comunicação mais clara para entender o que o parceiro está sentindo.
💡 Dica: Em vez de esperar que o parceiro autista perceba que você está chateado, diga de forma direta:
✔️ “Hoje eu me sinto triste por causa disso. Você pode me ouvir um pouco?”
2.2. Reações emocionais inesperadas
Como autistas processam emoções de maneira diferente, suas reações podem não ser as esperadas.
💡 Exemplo:
🔹 O parceiro neurotípico compartilha algo triste e espera um abraço ou uma palavra de conforto.
🔹 O autista pode reagir com silêncio ou tentar resolver o problema de forma lógica, sem demonstrar emoções da maneira convencional.
Isso pode ser interpretado como frieza, quando, na verdade, é apenas uma diferença na forma de processar emoções.
💡 Dica: Em vez de esperar que o autista reaja instintivamente da maneira convencional, peça diretamente o que você precisa naquele momento:
✔️ “Eu não quero uma solução agora, só quero que você me escute.”
2.3. Dificuldade em demonstrar apoio emocional
Pessoas autistas podem ter dificuldade em expressar apoio emocional da forma esperada, mesmo quando se importam profundamente com o parceiro.
💡 Exemplo:
🔹 Em vez de dizer “eu te amo” com frequência, um autista pode demonstrar amor ajudando o parceiro em tarefas práticas, como consertar algo ou lembrar detalhes importantes do seu dia.
Isso pode levar o parceiro neurotípico a sentir que há um distanciamento emocional, quando, na verdade, o amor está sendo demonstrado de outras formas.
💡 Dica: Identificar as formas alternativas que o parceiro autista usa para demonstrar carinho pode ajudar a evitar frustrações.
2.4. Hipersensibilidade emocional
Muitos autistas sentem emoções de maneira muito intensa, o que pode levá-los a evitar certas situações emocionais por medo de ficarem sobrecarregados. Isso pode gerar dificuldades em lidar com momentos de crise no relacionamento.
💡 Exemplo:
🔹 Durante uma discussão intensa, o parceiro autista pode precisar se afastar para processar as emoções antes de continuar a conversa.
🔹 O parceiro neurotípico pode interpretar isso como falta de interesse ou frieza.
💡 Dica: Se um autista precisar de tempo para processar emoções, o casal pode combinar um tempo específico para retomar a conversa sem que isso pareça uma fuga do problema.
3. Como melhorar a conexão emocional no relacionamento?
Apesar dos desafios, um relacionamento entre uma pessoa autista e um neurotípico pode ser profundamente significativo e satisfatório quando ambos aprendem a se comunicar de maneira mais eficaz.
3.1. Comunicação aberta e clara
Autistas podem ter dificuldade em perceber emoções implícitas, então ser direto e claro pode ajudar a evitar mal-entendidos.
✔️ Diga exatamente o que você sente e o que precisa no momento.
✔️ Evite esperar que o parceiro “adivinhe” seus sentimentos.
💡 Exemplo:
❌ “Acho que você já percebeu que estou chateado.”
✅ “Estou chateado com o que aconteceu hoje. Podemos conversar sobre isso?”
3.2. Estabelecer sinais e códigos emocionais
Se o parceiro autista tem dificuldade em interpretar emoções, o casal pode criar estratégias para facilitar a comunicação emocional.
✔️ Criar palavras-chave para indicar emoções, como “preciso de um abraço” ou “preciso de espaço para pensar”.
✔️ Usar mensagens escritas para expressar sentimentos, caso falar sobre emoções seja mais difícil.
3.3. Valorizar formas alternativas de demonstrar amor
Nem sempre um autista demonstrará amor de forma tradicional. Observar os pequenos gestos que ele faz pode ajudar o parceiro a perceber o carinho de outras formas.
💡 Exemplo:
✔️ Ele pode não dizer “eu te amo” o tempo todo, mas sempre lembrar de algo importante para você.
✔️ Pode não ser fã de abraços frequentes, mas demonstrar carinho preparando sua comida favorita.
3.4. Trabalhar a empatia mútua
A empatia não deve ser apenas do parceiro neurotípico tentando entender o autista – ambos precisam se esforçar para compreender as necessidades do outro.
✔️ O parceiro autista pode tentar entender como o outro expressa emoções e se esforçar para oferecer suporte da forma que ele precisa.
✔️ O parceiro neurotípico pode aprender a reconhecer o amor e a empatia do autista de maneiras não convencionais.
💡 Exemplo: Se um autista não sabe como confortar o parceiro em um momento difícil, ele pode perguntar:
🗣️ “Como posso te ajudar agora?”
Essa pequena mudança pode fazer uma grande diferença na relação.
Conclusão: Empatia pode ser diferente, mas ainda assim é válida
Dificuldades na empatia podem gerar desafios nos relacionamentos entre autistas e neurotípicos, mas isso não significa que não possa haver uma conexão emocional forte e significativa.
O segredo está em entender que a empatia pode ser demonstrada de maneiras diferentes e que, com paciência, comunicação aberta e ajustes na forma de interagir, é possível construir um relacionamento saudável e equilibrado.
Se você está em um relacionamento com um autista, lembre-se: a falta de uma reação emocional convencional não significa falta de amor.
E se você é autista, saiba que suas formas de demonstrar empatia e carinho são válidas – o importante é encontrar um parceiro que compreenda e valorize seu jeito de ser. 💙
Te vejo no próximo post!
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Blogueira desde 2014, autista diagnosticada tardiamente e apaixonada por aprender e compartilhar experiências. Explore mais sobre o autismo por aqui no Blog Espectro Autista TEA!